Qualquer semelhança será mera coincidência...

09 de Outubro de 2012 12h10

Como mostram etnografias recentes, uma abordagem atual das eleições deve levar em consideração a função cada vez mais relevante do dinheiro, tanto sob forma direta quanto transformado em recursos diversos, como meio de angariar votos e conquistar eleitore





Twitter; @ItapebiAcontece 

 

O artigo pretende mostrar como o dinheiro utilizado nas eleições municipais atua com um desterritorializador das relações sociais previamente existentes, ainda que apenas em alguns casos. Ele é um signo de mercantilizarão do processo eleitoral que encerra em si mesmo as transações de longo prazo envolvendo o empenho da palavra, das promessas e dos blocos de dívida e crédito, tanto de eleitores quanto de candidatos. Mas o dinheiro em sua forma pura pode ser desmonetarizado pelas próprias relações de dívida e crédito no interior da circulação de recursos-voto por recursos-favor. Por outro lado, bens e serviços que implicam apenas indiretamente o dinheiro pode sofrer um processo de monetarização, dependendo da forma como são aplicados.
Como mostram etnografias recentes, uma abordagem atual das eleições deve levar em consideração a função cada vez mais relevante do dinheiro, tanto sob forma direta quanto transformado em recursos diversos, como meio de angariar votos e conquistar eleitores. O tema foi tratado sob enfoque etnográfico, no âmbito da antropologia brasileira, ao menos por dois autores (Palmeira 1992; Goldman 2000). Segundo Palmeira, a chamada compra de votos ocorre sempre que o dinheiro é usado abusivamente ou sob sua forma pura e imediata. Para Goldman, existe certa ambivalência dos sentidos atribuídos a essa prática.
A aproximação do processo eleitoral à circulação de dons é encontrada em várias épocas e latitudes. Segundo diversos estudos, os intervenientes encaravam com dificuldade a ausência de dons durante este período. Candidatos e eleitores parecem considerá-la uma época de dissipação de riquezas e serviços cujas reservas tornam-se ilimitadas. De acordo com os dados de minha pesquisa, ambas as partes, cujas posições muitas vezes confundem-se e trocam-se (o que não desfaz a tensão entre elas), põem-se de acordo com a seguinte opinião: a época da política é o tempo em que alguns querem votos e outros querem favores. Aos que desejam os votos resta apenas dobrarem-se aos desejos dos que os detêm. E como corolário: os que obtiveram favores devem reconhecer-se devedores dos que os concederam, obrigando-se a retribuí-los levando a efeito a palavra empenhada na época do recebimento. Ao detentor dos favores resta honrar seus compromissos junto aos donos dos votos. Essa é a regra, declarada ou tácita. Resta saber o modo como ela responde ao funcionamento da máquina social e as formas como as regras podem ser legitimamente rompidas. Desta forma alguns políticos são eleitos com votos “trocados por dinheiro”, e os eleitores só dão conta que fizeram um péssimo negocio quando no caso de Itapebi, observam a falta de um transporte coletivo para ir a seu trabalho, seu filho ir para a escola na cidade alta caminhando ou em carrocerias de veículos utilitários quando o onibus quebra, a falta de um veiculo de transporte de idosos nas ladeiras da cidade baixa para um posto de saúde quando tem o médico, uma creche para as mães de a cidade baixa deixar seus filhos para trabalhar sem ter que ir até o bairro novo deixar na creche Jesus amparado da irmã Maria ramos... O ruim de tudo isso ainda é o “fanatismo” injetado pelas falsas promessas de empregos de ambos os lados, compra de bens domésticos dentre outros favorecimentos esdrúxulos como cimento, caçambas de brita e materiais de construções.  Esquecendo que a condição de vida de um cidadão deve ser gerada por serviços dos candidatos que eles elegeram e não somente na época de campanhas política, pois desta forma o candidato se eleito, irá encontrar a formula de recuperar o que fora gasto nesta época.  Observa-se que nos tempos atuais o trabalho prestado por verdadeiros servidores públicos que não mede esforços para ajudar, até mesmo em horários que a eles são dispensados ao seu descanso e lazer, e, se aventuram a candidatar-se a cargos políticos dificilmente são eleitos porque não dispõe de recursos para pratica da compra de votos, pois os verdadeiros servidores são concursados e não nomeados e seus salários em média são sempre em torno de 800 reais.
 
Arnaldo Alves
Baseado no texto de Jorge Mattar Villela
Jorge Mattar Villela é pós-doutorando no Departamento de Antropologia da USP.
 

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