Jérôme Valcke: suspenso por falar a verdade
FONTE TERIA DITO À REUTERS QUE O INTERLOCUTOR DA FIFA SERÁ AFASTADO DA COPA DE 2014; MAS SERÁ QUE NÃO MERECEMOS MESMO UM 'CHUTE NO TRASEIRO'?
O governo federal e a Fifa decidiram nesta sexta-feira que quem irá coordenar as negociações sobre a Copa do Mundo de 2014 por parte da federação internacional será seu presidente, Joseph Blatter, enquanto o negociador até o momento, Jérôme Valcke, ficará afastado por tempo indefinido. A informação foi passada por uma fonte do Planalto à agência Reuters.
A decisão, selada nesta sexta em encontro entre Blatter e a presidente Dilma Rousseff, teria sido tomada em jantar de trabalho na quinta, na casa do ministro do Esporte, Aldo Rebelo, do qual participaram Blatter e o empresário Ronaldo Nazário, integrante do conselho do Comitê Organizador Local (COL). Ficou acertado que o Brasil daria todas as garantias para a realização do Mundial, enquanto a Fifa deixaria Valcke afastado.
As relações entre o Brasil e a Fifa ficaram conturbadas diante do impasse para a aprovação da Lei Geral da Copa, e foram agravadas pela declaração de Valcke, que sugeriu um "chute no traseiro" do país para conseguir realizar o Mundial. A fala gerou uma reação forte do governo brasileiro, que pediu o veto à atuação do dirigente como intermediador entre o país e a Fifa.
É certo que Valcke foi pouco hábil e nada diplomático, mas há verdades, como a dele, que precisam ser ditas. E o atraso para a aprovação da Lei Geral da Copa é dos males o menor. A pouco mais de dois anos da realização do Mundial, temos questões elementares que parecem longe de uma solução: estádios nas principais cidades do país, como o Itaquerão, com obras atrasadas por conta de indefinições no financiamento, bem como projetos de mobilidade urbana megalomaníacos e sem perspectiva de início das obras, como é o caso de Salvador.
Aliás, se o Brasil merece um "chute no traseiro", o que dizer da capital baiana? Além da mobilidade urbana falível, a capacitação profissional continua sendo um dos itens que mais preocupam. Somente agora, e a passos de tartaruga, começam a emplacar projetos de formação e capacitação de pessoal para o recebimento aos turistas da Copa, como cursos de inglês, de atendimento ao público e gestão de negócios. Por exemplo: segundo dados da Secopa, apenas 70% dos taxistas da cidade têm alguma noção de inglês ou espanhol. Apenas há algumas semanas, o governo do Estado, em parceria com o Sebrae, começaram a ministrar cursos de aperfeiçoamento para essa classe, considerada o "cartão de visita" da cidade, já que são os primeiros a ter contato com os turistas que aqui chegam.
Diante de um cenário como esse, questiona-se: o que cabe mais, a suspensão do Inábil Jerome Valcke ou uma azeitada no projeto brasileiro para receber a Copa do Mundo? Os fatos falam por si.
Informações de bastidores dão conta de que os patrocinadores da Copa do Mundo já começaram a pressionar a Fifa para dar o tal chute no traseiro do país e já cogitam trocar de país sede. A Inglaterra e os Estados Unidos estariam sendo cogitados como plano B dos patrocinadores e da Fifa.
Teatro da paz
Mas ta tudo bem, tudo na paz. O Brasil já perdoou Jerome Valcke e a Fifa já cedeu à pressão brasileira para retirá-lo do páreo. A sinalização de concordância da Fifa com a exigência veio nas palavras de Blatter aos jornalistas logo depois do encontro com Dilma nesta sexta: "Vamos nos ver mais vezes".
O presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RS), afirmou à Reuters que durante almoço com Blatter, Pelé e parlamentares, o dirigente da Fifa garantiu que "virá muitas vezes ao Brasil". "Ele (Blatter) garantiu que não há nada que vá atrapalhar a realização da Copa do Mundo no Brasil", afirmou Maia.
Ainda segundo o relato do presidente da Câmara, Blatter disse estar confiante que o Brasil terá toda a infraestrutura necessária pronta antes da Copa e citou que em edições anteriores, até mesmo na Alemanha (2006), havia discussão sobre o ritmo das obras.
Nada como um chute no traseiro, vez ou outra, para que as coisas voltem a funcionar. Ou, ao menos, a aparentar funcionamento.
Itapebiacontece
Fonte 247-Bahia