Pleito já é marco na história política da Bahia

ELEIÇÕES
02 de Outubro de 2022 08h10

Independente do resultado, a eleição estadual de 2022 na Bahia já tem lugar de destaque

Twitter: @arnaldofenix

Independente do resultado, a eleição estadual de 2022 na Bahia já tem lugar de destaque na história política do Estado. Não apenas pela grande indefinição acerca do resultado, com institutos de pesquisas cravando vitória de um ou outro candidato no primeiro turno – e outros ainda bancando a maior possibilidade de segundo turno –, mas também por novidades trazidas pela disputa, que podem reordenar os rumos da política baiana no futuro, e polêmicas que foram destaque no Brasil e no exterior.

O que não mudou foram os grupos antagonistas favoritos na disputa, de acordo com as pesquisas eleitorais. Jerônimo Rodrigues (PT) e ACM Neto (União Brasil) são os representantes da polarização entre petistas e carlistas – herdeiros do bloco liderado pelo ex-senador Antonio Carlos Magalhães (1927-2007) –, vigente desde 1998, quando o carlista César Borges foi eleito, derrotando o petista Zezéu Ribeiro (1949-2015). Desde lá, o ex-PFL e ex-DEM, atual UB, reduto dos carlistas na Bahia, mede forças com o PT no Estado a cada eleição. 

Bloco do eu sozinho

Neto, porém, decidiu seguir outro caminho: confiante na própria popularidade, abriu mão das alianças políticas – e de possíveis desgastes entre quem fosse preterido – e lançou sua concunhada, Ana Coelho, para o posto. Sem experiência na política eleitoral, Ana, herdeira da TV Aratu, mulher do deputado estadual Tiago Correia (PSDB) e sobrinha do ex-governador e atual prefeito de Guanambi, Nilo Coelho (UB), havia sido filiada ao Republicanos na data limite para interessados em concorrer nesta eleição. “A gente poderia trazer alguma pessoa da política, mas optei por alguém de fora”, disse o ex-prefeito de Salvador, no anúncio da candidata a vice, ressaltando a opção pela juventude (Ana tem 40 anos). “Tenho 43 anos e sou mais velho da chapa.” 

Com o movimento, figuras históricas do carlismo foram escondidas na campanha. O ex-governador Paulo Souto, que foi secretário de Neto na Prefeitura e organizou boa parte da campanha, por exemplo, sequer apareceu. José Ronaldo chegou a ameaçar negociar apoio a adversários. Acabou ganhando a coordenação da campanha carlista como consolação. 

A decisão de Neto sobre sua vice pegou de surpresa e foi mal recebida por parte dos aliados – as reais repercussões do evento vão ficar mais claras após a eleição. Mas a escolha acabou colocando sua própria candidatura em risco. 

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) avalia a impugnação da chapa, por Ana não ter deixado a atuação na emissora até o prazo previsto para desincompatibilização de candidatos. A confiança do ex-prefeito em seu desempenho pessoal, muitas vezes qualificada – mesmo dentro de seu grupo – como “arrogância”, também o levou a um movimento sem precedentes entre os carlistas.

Sem poder se aproveitar diretamente da popularidade de Lula na Bahia e sem querer ser atrelado ao presidente Jair Bolsonaro – a quem havia apoiado na eleição anterior –, o candidato do grupo no Estado não revelou (ou recebeu) apoio de candidatos da eleição presidencial. Nem mesmo a postulante de seu partido, Soraya Thronicke, foi mencionada na campanha. “Neto tinha a ideia que venceria com alguma facilidade a eleição”, revela um integrante de sua campanha. 

“O crescimento da candidatura do PT era esperado, mas não era visto como um risco real.” Segundo o cientista político e executivo-chefe do instituto AtlasIntel, Andrei Roman, a falta de clareza de Neto sobre a eleição presidencial o prejudica. “A candidatura tem resiliência, pelo fato de ACM Neto ser o mais conhecido entre os candidatos, mas enfrenta resistência tanto dos eleitores de Lula quanto dos de Bolsonaro”, avalia.

“Por mais que ele (Neto) tenha sido um apoiador de Bolsonaro no Congresso, como liderança do UB, por mais que tenha defendido a agenda econômica de várias maneiras, por mais que a relação pessoal entre ele e o presidente da República tenha sido boa, ACM Neto meio que buscou esconder esse relacionamento.”

Candidato do time

Se os carlistas apostaram no desempenho pessoal de ACM Neto e “esconderam” figuras históricas do grupo, o PT fez o movimento oposto: baseou a campanha na grande popularidade petista na Bahia, com Lula, Rui Costa e Jaques Wagner como expoentes, e lançou um candidato a governador praticamente desconhecido da população e sem histórico eleitoral. Jerônimo Rodrigues foi incumbido de ser o representante do “time de Lula” na Bahia. 

“Essa não é apenas uma candidatura pessoal, é a candidatura de um time, o time de Lula, o time que cuida de gente”, costuma dizer Jerônimo. “Estou representando um projeto de Bahia, um projeto de fortalecimento das instituições, para melhor atender a população na saúde, na educação, na infraestrutura, na segurança pública, na cultura.” 

Parte dos aliados do PT ansiava pela presença do senador Jaques Wagner na eleição. Nacionalmente respeitado por sua capacidade de articulação política, porém, Wagner considera que a eleição deu ao grupo uma oportunidade de “renovação” no Estado. “Jerônimo é filho do povo, tem a cara da Bahia e é um nome novo – e isso foi decisivo na sua escolha, para renovar esse projeto que sempre foi de um time, nunca foi pessoal”, afirma. Apesar de ser pouco conhecido entre os eleitores até o início da campanha, Jerônimo ganhou fama, dentro do grupo, por coordenar a elaboração das ações de governo de Rui Costa.

Os bem avaliados trabalhos à frente da Secretaria de Desenvolvimento Agrário e, da Secretaria de Educação, ambos nos governos de Rui, também cacifaram a opção pelo seu nome como candidato petista ao governo. “Jerônimo nasceu na roça, teve de sair de casa para estudar, se formou engenheiro agrônomo, é professor da Universidade de Feira de Santana, trabalhou com a presidenta Dilma (Rousseff), voltou para orientar a agricultura familiar na Bahia, coordenou os programas de governo do Rui, foi o secretário de Educação responsável pelo maior programa de infraestrutura da história do Estado, com mais de 200 escolas de tempo integral sendo construídas”, listou Wagner.

“Jerônimo não era a pessoa mais conhecida do grupo, mas quando o levamos para o Lula, ele disse o que a gente já sentia: ‘É esse o cara’.” A dificuldade petista, porém, é o pouco tempo que Jerônimo teve para construir sua popularidade entre os eleitores. Quando seu nome foi lançado, já na metade do primeiro semestre deste ano, ACM Neto estava realizando eventos de pré-campanha pela Bahia havia mais de um ano.

Não à toa, o ex-prefeito de Salvador chega ao dia do pleito sendo conhecido por 95% do eleitorado, segundo as pesquisas, enquanto cerca de 30% da população alega ainda não conhecer Jerônimo. “Como Lula tem quase 70% de intenções de voto no Estado, existe espaço para Jerônimo crescer mais nesta reta final”, avalia Andrei Roman. “E, pelo padrão das últimas eleições, com as vitórias em primeiro turno tanto de Jaques Wagner quanto de Rui Costa, é bastante considerável a chance de a eleição ser resolvida no primeiro turno.”

Por: A Tarde

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