Salvador: Encosta desmorona e cinco casas desabam na Fazenda Grande do Retiro

Salvador
04 de Outubro de 2019 21h10

Casas já estavam condenadas e deslizamento complicou situação no local

Twitter: @ItapebiAcontece

 

Do alto, a impressão que se tem é que sonhos de anos viraram um monte de papelão misturado ao barro molhado. “Foram 35 anos de duro trabalho, cada bloco, cada cimento, tudo foi resultado do meu suor de domingo a domingo”, lamentou o porteiro Manoel Braga, 45 anos, diante de uma cratera com escombros. Era por volta das 23h quando o chão sacudiu duas vezes e, em instantes, cinco casas, inclusive a de Manoel, desabaram na noite chuvosa desta quinta-feira (3), na Fazenda Grande do Retiro.  

Os imóveis que vieram ao chão faziam parte dos 30 que foram interditados pela Defesa Civil no dia 19 de agosto deste ano, na 1ª Avenida Candinho Ferreira. Todas apresentavam rachaduras nas paredes e nos pisos. Segundo a Prefeitura, houve a ruptura de parte da contenção da encosta na localidade, o que provocou o desmoronamento das cinco casas que já haviam sido evacuadas.

Algumas moradias permanecem erguidas, mas é só uma questão de tempo. Com o deslizamento, foi junto também parte da terra que sustentava algumas fundações, elevando para 54 o total de imóveis evacuados na 1ª Avenida Candinho Fernandes e numa travessa próxima. Na manhã desta sexta-feira (4), a Defesa Civil isolou a área e a Guarda Municipal foi acionada para garantir que apenas os moradores tivessem acesso para retirar os móveis, além da permanência de pessoas autorizadas, como funcionários da prefeitura. 

A minha casa está na beiradinha, a qualquer momento pode descer, do jeito que está o terreno. Estava na casa de uma vizinha quando fui informada pelo WhatsApp do deslizamento. Estou tirando tudo o mais rápido que posso, contando com ajuda de um, de outro, e levando as coisas para a casa de minha irmã, que fica aqui perto”, lamentou a dona de casa Lucélia da Luz. 

Lucélia não foi a única pessoa que teve que providenciar às pressas um local para guardar as coisas. O porteiro Jaime Alves de Oliveira, 55, carregava a impotência diante da situação no rosto. Emocionado, colocava todos móveis num caminhão de mudança. “A sensação é terrível e a gente não pode fazer nada, a não ser deixar para trás um sonho de anos, erguido num trabalho em conjunto com a minha mulher. Vamos deixar tudo na casa de um parente”, disse ele, enquanto enxugava as lágrimas. 

Morador há 40 anos da localidade, o zelador Jerônimo Correia Alves, 43, fazia um vai e vem constante entre a sua casa e uma picape à beira da rua. Ele, o filho adolescente e vizinhos carregavam a carroceria do carro com móveis. “A minha casa é uma das que já vinha sido interditada. Ontem voltei a recolher algumas coisas que faltavam, mas com esse deslizamento de agora, estou tentando retirar o que ainda falta”, contou ele.  

 

Fotos: Arisson Marinho / Correio

 

Novas moradias
O vice-prefeito e secretário municipal de Infraestrutura e Obras Públicas, Bruno Reis, esteve na comunidade pela manhã e garantiu que as famílias prejudicadas irão ganhar novas moradias no Conjunto Habitacional Barro Branco, que possui cerca de 120 apartamentos e está sendo construído pelo município no Alto do Peru. “Acreditamos que, em abril, essas famílias terão seus novos imóveis em um local definitivo e mais seguro. Até lá, a Prefeitura ajudará essas pessoas, como já tem feito aqui, com benefícios como o Aluguel Social e também o auxílio emergência, para quem teve perdas materiais”, declarou. 

Reis disse que as moradias do Conjunto Habitacional Barro Branco são casas construídas no padrão da Prefeitura, avaliadas em R$ 90 mil. “É o valor que a gente está construindo, R$ 90 mil, mas a pessoa tem a preferência de ir para lá ou pode optar pela indenização”, disse Reis.

A cozinheira desempregada Ana Bacelar Bezerra questionou os valores oferecidos. “Meu imóvel vai cair a qualquer momento. Está por um triz. Uma casa de três pavimentos, onde moram 11 pessoas: eu, meu marido, filhos e netos. A Prefeitura quer indenizar por R$ 30 mil? Como pode? Se a própria Prefeitura, através do IPTU, avaliou minha casa por R$ 250 mil? É injusto”, disse ela logo após a saída de Reis. 

Fotos: Arisson Marinho / Correio

 

Causas
Sobre as razões da ruptura da cortina da encosta e as rachaduras nas residências, Reis disse que desde maio a Prefeitura havia identificado o acúmulo de água no talude da encosta, provavelmente em função do vazamento de alguma adutora da Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa). As investigações continuam para saber quem é o responsável: se a concessionária de água e esgoto ou a empresa que executou a obra de contenção - Consórcio Maf e GeoBahia.

“Desde maio a empresa acionou a Embasa para investigar esse acúmulo de água. Contratamos um técnico, que emitiu um laudo informando que o problema era o vazamento de água. Mas a concessionária não tomou providências. Vamos demolir algumas casas que estavam condenadas para continuar a investigação, para saber também se foi a obra da encosta que provocou o rompimento de alguma adutora ou não”, disse Reis. 

Em nota, a Embasa informou que "desde o momento em que as denúncias de rachaduras começaram a ser feitas pelos moradores da Travessa Candinho Fernandes, na Fazenda Grande do Retiro, verificou toda sua tubulação na área, corrigiu vazamentos na rede que foi danificada em função da movimentação do terreno e vem acompanhando diariamente o funcionamento dessa rede, cujo diâmetro é de 32 milímetros, incapaz de provocar impacto dessa magnitude no terreno que vem sendo encharcado pelas chuvas que caem em Salvador, desde agosto, e sofreu um recorte em seu talude, executado pela empresa a serviço da prefeitura".

O prefeito ACM Neto comentou: "Não é possível ainda dizer que a construtora foi responsável pelo que aconteceu. A gente não pode assegurar isso, é preciso ter um estudo técnico e ter laudos. Eu venho acompanhando o assunto desde a noite de ontem e durante toda a madrugada, além do acompanhamento que a gente vinha fazendo nos últimos dias, então, ainda não podemos dizer se a construtora foi responsável ou não. É preciso ter um pouco de calma e cautela para aguardar a conclusão dos estudos técnicos. Agora, se ela tiver alguma responsabilidade será cobrada por isso, terá que arcar com todos os prejuízos", disse.

Crea
Diante da situação, o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia da Bahia (Crea-Ba) foi ao local para fazer uma avaliação. “É uma obra que requer todo o cuidado, ainda mais quando ocorre uma situação dessa. Imóveis construídos de maneira informal não têm toda a técnica de engenharia necessária, são obras de contenção que sempre foram feitas. Fatos excepcionais não puderam ser previstos com antecedência, e com a chuva piorou tudo, causando o deslizamento”, explicou o conselheiro do Crea, o engenheiro civil João Neto. 

Segundo ele, o Crea tem como obrigação a fiscalização do exército da profissão. “Não verifica se a estrutura está feita corretamente ou não, e sim se houve algum indício de negligência ou imperícia. Neste caso, o Crea poderá abrir uma investigação para verificar os fatores”, declarou Neto. 

Fotos: Arisson Marinho / Correio

 

Trabalho permanente


Técnicos, gestores e trabalhadores de vários órgãos da Prefeitura, a exemplo da Defesa Civil, das secretarias de Infraestrutura e Obras Públicas (Seinfra), de Promoção Social e Combate à Pobreza (Sempre) e de Desenvolvimento e Urbanismo (Sedur), além da Superintendência de Obras Públicas (Sucop) e da Limpurb, atuam na localidade executando diversas ações, a exemplo do estudo para demolição de imóveis condenados, remoção de escombros e auxílio a famílias. 

"Já havíamos identificado fissuras e rachaduras em vários imóveis aqui nesse trecho, onde as casas desabaram na noite de ontem (quinta). Há cerca de 30 dias isolamos a área, o que foi fundamental para que não tivéssemos vítimas, garantindo o bem maior de todos nós, que é a vida. Além disso, isolamos hoje (sexta) uma nova área da comunidade, e estamos fazendo esse trabalho de identificação dos imóveis e das famílias, para que elas também possam receber auxílios sociais", declarou o diretor-geral da Defesa Civil de Salvador, Sosthenes Macêdo. 

Segundo a Sempre, 41 famílias da comunidade já recebiam Aluguel Social. Uma equipe da pasta está no local fazendo o novo levantamento. 

 

ItapebiAcontece /  Correio 24 Horas

 

 

 

 

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