Essa armadura de couro parece simples, mas esconde segredos do sertão – Foto: Uendel Galter | Ag. A TARDE
Da Armadura Medieval à Proteção do Sertão: Entenda como a vestimenta de couro dos vaqueiros da Bahia se tornou um escudo essencial, carregado de tradição.

Vestimentas de couro e utensílios do sertão marcam | Foto: Raphael Muller | Ag. A TARDE
O vaqueiro, com sua indumentária de couro, montado a cavalo sob o sol inclemente, é uma imagem icônica do Nordeste. Longe de ser apenas um traje folclórico, essa vestimenta é uma verdadeira armadura de sobrevivência, com a mesma função protetora das que equipavam os guerreiros medievais. Da Batalha Histórica ao Desafio da Caatinga Enquanto os cavaleiros antigos usavam o ferro para se proteger em combate, o vaqueiro nordestino forjou sua defesa com o couro.
Seu campo de batalha é a Caatinga — a vegetação densa, seca e repleta de espinhos do semiárido baiano. Sob um sol escaldante, o couro grosso e resistente impede que os galhos e espinhos rasguem a pele durante a corrida atrás do gado. A proteção é tão vital que até o cavalo recebe um reforço especial no peito e na cabeça. A história dessa indumentária se entrelaça com a luta pela Independência da Bahia.
Em 1823, no município de Pedrão, surgiu o grupo dos Encourados de Pedrão, vaqueiros que se tornaram soldados, lutando pela libertação do estado. Hoje, o grupo mantém viva essa memória, desfilando com orgulho em eventos cívicos como o Dois de Julho, celebrando os heróis montados que ajudaram a escrever a história baiana.
O Legado de um Vaqueiro Raiz Um desses cavaleiros é Ademário Martins, mais conhecido como Ademário Aboiador.
Aos 71 anos, ele se define como um “vaqueiro raiz, destemido para qualquer hora do dia”, nascido em Coração de Maria. Sua entrada nos Encourados de Pedrão há 30 anos foi casual: “Perguntei o que era preciso para ser um encourado. Disseram que era só ter cavalo e roupa. Cavalo eu já tinha. Comprei a roupa e virei encourado”, relembra. Para Ademário, vestir o couro dos Encourados é mais do que vestir uma roupa; é “um dever de honrar a profissão de vaqueiro”.

| Foto: Raphael Muller | Ag. A TARDE
Escudo a Escudo: As Peças da ArmaduraCada elemento do traje do vaqueiro serve como um escudo especializado contra os perigos do sertão:PeçaNomeFunção no Sertão
1.Gibão A “jaqueta” blindada. Cobre peito, ombros e braços, protegendo o corpo contra cortes de espinhos e queimaduras de sol.
2.Chapéu de Couro O “capacete” do vaqueiro. Grosso e de abas caídas, defende a cabeça do sol, da chuva e, principalmente, dos golpes de galhos na mata.
3.Perneiras Escudo para as pernas. Cobrem da coxa ao pé, evitando picadas de animais e arranhões de espinhos rasteiros.
4.Luvas Especiais Protegem o dorso das mãos exposto durante a montaria, permitindo que os dedos fiquem livres para manusear as rédeas.
5.Alforge A “mochila” do vaqueiro. Bolsa de couro presa à sela, utilizada para transportar água, comida e ferramentas essenciais.

| Foto: Raphael Muller | Ag. A TARDE
6.Berrante O “rádio” da comitiva. Feito de chifre de boi, seu som grave é usado para guiar o gado e comunicar a posição dos companheiros à distância.
(Baseado no Texto de Bianca Carneiro e Carla Melo – A Tarde)




Deixe uma resposta